sexta-feira, 21 de março de 2008

Seleção Brasileira Penta

Trinta de junho de dois mil e dois

Sabia que estava com trajes inadequados para tal evento. Reconheço, deveria estar de traje social. Paletó e gravata seria o mais adequado naquela manhã, mas era muito cedo e estava um pouco frio. Assim, com pijamas estava eu sentado no sofá de sala de olho na televisão. Era por volta das oito horas da manhã, meu coração como os de muitos que estavam ao meu lado galopava. Queria gritar. É campeão do mundo! É penta!
Havia sofrido muito em noventa e quatro. Foram os cento e vinte minutos mais longos que já havia vivido, na minha vida de torcedor, que só se encerraram com o chute mais belo de todos os tempos. O anti-gol do Baggio. Em noventa e oito fomos vice-campeões e eu nem fiquei revoltado, não sei se era pelo fato de ter sido campeão há tão pouco tempo, ou pela apatia jamais vista de uma seleção finalista de uma copa do mundo. Sofremos um passeio da esquadra francesa.
Chega de passado, queria pensar no presente, que hoje já se passou, queria novamente torcer como noventa e quatro. Estávamos frente a frente com uma seleção tri campeã, que já havia participado de várias finais e que além de tudo e só por isso já deveria ser respeitada, pois vestia seu uniforme que lembra o glorioso alvi-negro do parque São Jorge. É engraçado, mas o primeiro uniforme da seleção germânica lembra o meu Timão, já o segundo uniforme... é melhor não comentar.
Bem, todos sentados. Eu, minha esposa, meus sogros, meu cunhado, meus pais, irmãs, tios, primas e avós unidos. Vamos BRASIL! Estávamos no sítio em Jarinu. Fazia menos de vinte quatro horas que havia casado no civil, tínhamos feito um churrasco em família. Dizia durante a festa. “Esta festa só acabará amanhã com o penta!” “vamos comer joelho de porco com gosto redobrado!”
Nossos olhos estavam no Japão, ou melhor, no estádio Yokohama. Depois de inúmeras propagandas finalmente o campo, finalmente um zoom nos jogadores. Queria ver a cara do Ronaldinho, que havia crescido o suficiente para se chamar Ronaldo depois dessa copa. Queria vê-lo bem, pois não queria lembrar em hipótese nenhuma o que aconteceu em Paris. Estavam enfileirados. Cafu, Rivaldo, Marcos e logo depois, ele Ronaldo. Parecia muito bem sorriu para câmera.
Todos em pé, mão direita no peito. “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas....”, ou melhor, pensava deveria ser “As margens plácidas do Ipiranga ouviram de um povo heróico um brado retubante”, ou melhor ainda; ... As margens calmas do Ipiranga ouviram do povo um puta grito: GOOOOOL! “... pátria amada BRASIL”!!!!!
O calvo italiano de preto, que nem sobrancelhas tinha, apitou. Começou o jogo. É engraçado, mas começo de jogo geralmente é um pouco lento. É aquele momento em que o jogador em respeito ao torcedor do estádio o espera para encontrar um lugar na arquibancada quando a fila do lado de fora é lenta. Como também, em respeito ao torcedor do sofá que sempre pede para alguém buscar uma cervejinha na cozinha.... Era muito cedo. Pedi um café com leite. As pipocas transformaram-se em bolachas.
Rapidamente o dourado time de calção azul segurou o meio de campo. Bola para Rivaldo na esquerda. Este como era de costume, após um leve toque de um alemão caiu iria promover uma convulsão típica dos cavadores de falta, mas como viu Zé Roberto em boas condições logo atrás. Ficou bem quieto e viu Zé Roberto me desequilibrado tocar para Ronaldinho Gaúcho logo ao centro. Ao lado do cabeludo jogador, correu Ronaldo por trás do Gaúcho. Este com a categoria de poucos, com a bola no pé, bem na frente de dois alemães esperou Ronaldo correr em direção ao gol, deu um toque com o pé direito, segurou a bola, mais um toque e deixou Ronaldo na cara do gol. O carequinha com sua velocidade explosiva já na pequena área um pouco desequilibrado chutou com o pé esquerdo, mas mais rápido que ele vinha o temido jogador alemão: Kahn, seu cabelo espetado, suas sobrancelhas esparramavam na testa pareciam que poderiam ajudá-lo a espalmar uma bola. Não foi nesse lance... bola para fora.
Após poucos minutos, Ronaldo veio em alta velocidade próximo à área, com a marcação de três alemães não conseguiria provavelmente passar, mas a seleção estava embalada e como uma avalanche Ronaldinho Gaúcho vinha logo atrás pronto para receber a bola ou pegar uma sobra de uma bola espirrada. Então, um toque a mais de Ronaldo a bola bateu no zagueiro alemão e sobrou para aquele que já havia premeditado o lance. Ronaldinho com apenas um toque com o pé direito lança Ronaldo, que de maneira muito rápida entendeu a jogada e correu para pequena área, enquanto a bola viajava por cima do zagueiro alemão, que nada poderia fazer, torcia para que o goleiro, Kahn adiantasse e salvasse o gol, porém a bola veio muito rápida Ronaldo se esticou todo, deu um leve toque com o pé esquerdo para o pé direito, mas o goleiro rápido de maneira irritante já estava a sua frente e se retorcendo para esquerda segurou a bola.
Logo após Kleberson ter chutado uma bola perigosa para fora. Rivaldo na intermediária tocou para Ronaldinho Gaúcho, que nesse lance tinha um espaço livre de uns três metros, um espaço completamente inaceitável para o time alemão, com três metros um jogador brasileiro como esse faz miséria e foi assim com apenas quatro toques provocou para que quatro alemães desesperados corressem ao seu encontro, permitindo que Kleberson ficasse livre logo atrás de Gaúcho, rapidamente esse recuou e Kleberson que chutou a cerca de uns dois metros antes de chegar na área. Foi um lindo chute com o pé direito fazendo com que a bola e eu que estava no sofá levantasse e erguesse as mãos para gritar GOL. Kahn, pela primeira vez, estava vendido no lance, havia se jogado de maneira desesperada com o braços estendidos em direção a bola. A foto já estava pronta, a bola iria entrar, mas havia entre o espaço morto e o espaço vivo, onde a bola deveria entrar um cano de metal e foi no travessão alemão em que a bola bateu. “Puta merda”, gritei. Começava a pensar como todos os torcedores brasileiros na regra mais temida de todo torcedor que torce para um time superior ao outro. Artigo 2 parágrafo 3: “... quem não faz, toma!”
A seleção amarela não amarelava de maneira alguma, pois no banco havia um senhor gordinho, sério, bravo, calvo de bigode que não permitiria isso acontecer. Vindo do Sul, gaúcho também merece seu reconhecimento. Felipão gritava, brigava, discutia representando muito bem nosso país.
Cafu, calmo como poucos em campo, do seu lado direito, faz um brilhante lançamento para Gaúcho que mais uma vez sozinho próximo a lateral esquerda saltou para receber a bola que viajava rapidamente pelo alto. Ao saltar já havia olhado para Roberto Carlos que descia em direção ao gol, com a cabeça não só utilizando-a para o raciocínio, mas também como ferramenta precisa, tocou para o veloz lateral esquerda que ajeitou com o pé direito. Nessa fração de segundo Ronaldo correu próximo a marca do penalti. Roberto Carlos com a bola preparada chutou forte com o seu melhor pé, a bola espirrou e sobrou para o Fenômeno que rapidamente chutou a queima roupa. Kahn de maneira extraordinária salvou o gol alemão com os pés. A bola realmente não queria entrar.
Acabava o primeiro tempo, todos diziam “O Brasil está superior” , “O Brasil é superior a Alemanha”... e é por isso que amamos o futebol, pois generalizamos inconscientemente um fato futebolístico como um fenômeno de impacto mundial.
Começou o segundo tempo, escanteio alemão. Neuville cobrou e Jeremy mergulhou na pequena área. Marcos, nosso brilhante goleiro, assustou e caiu sentado dentro do gol com os braços abertos, mas foi Edmilson que salvou a seleção colocando a bola pra fora. O Artigo 2 parágrafo 3 voltava a sondar nossas cabeças. Logo após uma falta na intermediária em direção ao nosso gol. Ronaldinho Gaúcho, que já havia feito um belíssimo gol na Copa contra a Inglaterra desse mesmo local, preocupou-se e junto com Rivaldo e Edmilson formaram a barreira na tentativa de fechar o lado esquerdo do gol de Marcos. Neuville chutou com força e efeito a bola desviou da barreira pelo lado interno e foi com o endereço preciso no lado esquerdo de Marcos. Este que já havia salvado o Brasil em vários jogos anteriores mereceu mais respeito ainda por este lance, pois do a bola veio como um torpedo. Forte e com efeito. Marcão saltou do centro do gol e espalmou a bola que ainda caprichosamente bateu na trave e saiu pela linha de fundo. Ainda bem, pensei. Este era o gol com as traves ativas.
Aos sessenta e sete minutos de jogo, num contra-ataque Kleberson lançou Ronaldo em velocidade. Este dominou a bola pela intermediária e correu em direção ao gol, dois alemães o marcavam. Ronaldo tropeçou com o alemão caiu e perdeu a bola, mas não ficou reclamando falta, nem fazendo cera. Levantou rapidamente enquanto o zagueiro alemão tocou para um desnorteado jogador, que se apavorou a perceber Ronaldo insistindo em roubar a bola que para nós era nossa por direito. Justiça foi feita. Ronaldo pegou a bola no centro da intermediária tocou para Rivaldo que estava livre no seu lado esquerdo. Rivaldo ajeitou e chutou forte. Ronaldo acreditou e correu para o gol. Kahn, o “melhor goleiro do mundo” no centro do gol evitou o gol no primeiro momento, mas falhou em não segurar a bola e percebendo que Ronaldo pegaria a sobra engatinhou na tentativa de evitar o inevitável. Ronaldo aquele jogador que havia sido “o melhor do mundo”, aquele que havia machucado o joelho, aquele rompeu os ligamentos do joelho na frente das câmeras do mundo inteiro, aquele que ficou quase dois anos parado sem ritmo de jogo, aquele que para muitos jornalistas já estava desenganado...Acreditou que iria se recuperar e que voltaria a ser o The Best. Não desistiu em nenhum momento, chutou. GOL. GOOOL! GOOOOOOOOOOL!!!!!!
Era o primeiro gol brasileiro numa final de Copa de Mundo que assistia, pois em noventa e quatro os gols eram pré-concebidos na forma de penaltis. Foi uma emoção inesquecível. Tudo voava em casa canecas, bolachas....
Após doze minutos da euforia, num contra-ataque Cafu no seu lado direito tocou para Kleberson que correu em velocidade pela direita para um cruzamento, os alemães deram espaço Kleberson então cruzou rasteiro. Rivaldo na entrada da grande área marcado de maneira sábia apenas abriu as pernas permitindo que ela passasse a Ronaldo este ajeitou e chutou no mesmo lado esquerdo de Kahn. Kahn tentou novamente evitar, mas apenas viu a bola entrar... GOOOOOOOOLLLL! Agora já podia dizer, faltava pouco.... “É Penta... É campeão!!!!”
Antes de acabar para prestarmos mais uma homenagem ao nosso goleiro. Bierhoff chutou a queima roupa na pequena área e Marcos o melhor goleiro da partida espalmou um bola dificílima. “MAAAAARCOS!!!!”, valeu Marcão.
O fim estava próximo, o Penta era nosso. Denilson foi o último jogador a tocar na bola, quis fazer uma firula para segurar a bola no ataque até que sofreu uma falta alemã. O juiz italiano acabou o jogo assim. Numa falta alemã.
É CAMPEÃO DO MUNDO!!! SOMOS OS MELHORES!!!!

Marcelo Bellesso

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