sexta-feira, 21 de março de 2008

Meu Timão




O futebol é um esporte, no qual onze jogadores de cada equipe têm como objetivo fazer o gol. Cada gol vale um ponto, mesmo sendo de placa, canela, peito, cabeça, mas só não vale a mão. O fascínio deste esporte é o inesperado. É o fato que o óbvio e o racional não reinam. A melhor equipe nem sempre vence, pois pode haver chuva, moinho artilheiro, desatenção momentânea, que alteram uma partida e a história de um clube.
Não é obrigatório que todo brasileiro tenha um clube para torcer, mas esta regra vive pela sua exceção. “O meu é grande”, ou melhor, “o meu time é o melhor!” Estas são as mais freqüentes e melhores definições dos apaixonados torcedores.
Eu não fujo a regra e torço por uma equipe alvi - negra, que carrega uma nação. Pode-se chamar simplesmente Corinthians, ou carinhosamente chamá-lo de Timão. Nossa característica é torcer com emoção. Nossas lembranças de cada jogo vencido e de cada título conquistado são contadas com intenso sofrimento e angústia. Somos chamados de sofredores. Agradecemos. “Graças a Deus!”
Aquela noite não seria diferente era Janeiro de 2000. O palco do espetáculo era gramado. Maracanã era o seu nome. Era o jogo da nossa história contra o Vasco na final do Campeonato Mundial. Não poderíamos perder esta oportunidade de sermos os primeiros campeões mundiais.
Não havíamos feito um bom jogo, mas o Vasco não fez por merecer a vitória. Após 120 minutos de jogo os pênaltis iriam começar. Assistia pela TV nosso técnico motivando os jogadores, mas o que sentia de fato eram as batidas de meu coração galopeando de ansiedade. VAI CORINTHIANS!!
Helton, o goleiro adversário, assustado quis intimidar nosso primeiro batedor, colocando os dedos nos olhos apontava para Rincon. Queria dizer: “estou de olho e vou pegar”. Em seguida, nosso capitão, que não ficou abalado posicionou a bola na marca. Dizia por dentro: “vai Rincon chuta logo esta bola!”
Helton no centro do gol com os olhos arregalados, boca aberta e mãos no joelho, queria rastrear cada olhar do Rincon, tentando prever o lado que iria chutar. Assim, partiu nosso capitão para a bola e chutou. O goleiro saltou para frente a sua direita, bola na esquerda. Bateu na trave! PUTA MERDA É GOL!!!
Defino gol, como uma convulsão generalizada coletiva. Quando estamos no estádio isto fica muito mais claro, pois todos gritam, extravasam, xingam e comemoram. Na torcida do Corinthians é muito bom gritar gol, pois somos uma nação e como toda nação há várias raças e classes sociais. Portanto, na hora que a bola entra, o descamisado abraça o cara de paletó, voa amendoim, sushi e até macarrão. É gol do Timão!
Romário. aquele em que torci muito na Copa dos EUA, agora desejava que fizesse igual ao Baggio, mandando a bola na lua. Bateu fraco, Dida foi no canto certo e para manter nosso sofrimento a bola rala em Dida, mas entra. Gol deles.
Fernando Baiano parte para bater. Helton na mesma posição, queria dizer “errei o canto naquela vez, mas agora eu pego”. Fernando Baiano recua olhando para a bola posicionada. Correu em direção da mesma, bateu com classe bola lenta à esquerda, Helton mais uma vez à direita, CHUPA VASCO! É GOL!
Em seguida Alex Oliveira empata.
Helton pega a bola de dentro do gol e lança para Luisão, nosso batedor. Este posiciona, dá as costas ao goleiro e se concentra. Bola no canto direito novamente, Helton quase pega, mas é GOOOL! Sai Luisão beijando a camisa.
Novamente a fiel torcida calava a torcida do Vasco. “Dida! Dida!” Mãos elevadas, batendo palmas, dando todo apoio ao nosso arqueiro. O título estaria nas suas mãos.
Gilberto, o jogador vascaíno, pequeno, assustou-se com tamanho do goleiro corinthiano, vestido de azul, com os braços levantados parecendo que ultrapassavam o travessão. Bateu a direita e Dida voou. Espalmou a bola impedindo que entrasse. ESPAAAALMA DIDA! Estávamos em vantagem.
O coro tomou maior forma ainda. “DIIIIIDA!”.
Edu, agora mais confiante não tomou distância deu um passo e chutou a esquerda do goleiro. Helton acertou o canto, mas não a bola. GOL DO CORINTHIANS! Edu se sacode gesticula, beija o símbolo corinthiano e enxuga as lágrimas com sua camisa, não acreditando que o título estava realmente muito próximo. 4 x 2.
Viola, aquele que em 1988 escorregou conscientemente e deu-nos o título Paulista, poderia agora com a camisa vascaína escorregar e dar-nos outro título. Entretanto, correu, bateu, bola num canto, Dida do outro. 4 x 3!
Agora sim, sairia o gol do título nos pés de Marcelinho, caso fizesse o gol seríamos os campeões! Helton com as mãos cerradas rezava no centro do gol. Marcelinho estava tenso, estava intensamente sério. Recuou, correu e bateu. NÃO ACREDITO! Não pode ser, Helton espalma e impede que àquela bola entrasse. Não pudemos gritar, o que queríamos, teríamos que sofrer, pois esta é a nossa definição, aquilo que nos caracteriza, sofrer até o último instante
Este era o momento de secar e secar muito o Edmundo. No futebol tem muito disso, se não conseguimos vencer apenas com nossos méritos, temos que torcer para que o adversário erre mais e assim, foi o que fizemos, lembramos mais uma vez, daquela belíssima cobrança italiana na Copa dos EUA. Aquela cobrança de Baggio foi a melhor cobrança para nós brasileiros, pois deu-nos o título, não me lembro de todos os jogadores brasileiros que fizeram os gols, mas é fácil lembrarmos da bola de Baggio, voando acima do travessão do gol do Tafarel!
“Vai Edmundo! Espalhe-se ao Baggio! Faça a história!” Edmundo olhou para Dida, recuou passo a passo olhando para baixo. Isto era um bom sinal, não parecia muito confiante. Edmundo na linha da grande área partiu e chutou com o pé direito. A bola decolou do lado oposto ao lado que Dida havia escolhido, não poderia ser, e não foi. Dida de um lado e a bola do outro lado, mas do lado de fora!
É CAMPEÃO DO MUNDO!!! Não cabia em mim. A euforia tomou conta, em êxtase, chorava, gritava e pulava. Fomos campeões do MUNDO! Era inédito! “Salve o Corinthians o campeão dos campeões!”

Marcelo Bellesso

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